Imagem capa - PERCEPÇÃO OU CRIAÇÃO? OS DOIS, POR FAVOR! por 3zero5

PERCEPÇÃO OU CRIAÇÃO? OS DOIS, POR FAVOR!

Passei um bom tempo da minha carreira ouvindo que o fotógrafo criativo tem muito mais chances de ser bem sucedido. E, como ouvia isso de muitas pessoas, acabei acreditando piamente nisso. Passei anos e anos buscando uma criatividade que até apareciam em alguns trabalhos, mas nada que me convencesse que seria o suficiente para me levar aonde gostaria.

            Em outros momentos, me cobrava muito para que a tal criatividade aparecesse como num passe de mágica. Fotografava e não via grandes sinais da criação autoral naquelas fotos. Isso me frustrava e me paralisava em momentos mais críticos. O que havia de errado comigo? Por que não conseguia criar de forma sistemática, sempre que pegava minha câmera e a apontava para um assunto? Será que havia um erro de avaliação? Será que a minha escolha pela fotografia teria sido precoce demais? Deveria ter pensado melhor ou até mesmo experimentado outro ofício?




            O fato é que sempre fui exigente comigo mesmo. Mas, era isso que me fazia buscar aquele algo a mais, e entender que era possível evoluir mais um pouquinho. Desde os tempos em que fotografava os principais eventos de um clube super conhecido de Floripa, em meados dos anos 80, aos 16 anos de idade, já me exigia muito! Numa época em que, praticamente, tudo era fotografado no manual – exposição, foco e iluminação com flash – eu analisava os negativos do início ao fim para me certificar que tinha feito um trabalho consistente. Nem que a consistência fosse ter um padrão na exposição de todo o filme. Nada muito claro, nem muito escuro... Essa era a minha maior preocupação e, ao mesmo tempo, a maior conquista por um período bem curto.




            Em pouco tempo, entendi que a exposição e o foco são apenas alguns fatores que ajudam a construir uma boa imagem. Eles são importantes mas, não se bastam! Era preciso muito mais! Era preciso ser mais criativo, mais artista! Tentava muitas coisas. Buscava fotografar sob pontos de vista incomuns pra mim naquela época. Experimentava, experimentava, mas a criatividade aparecia timidamente em raros momentos. Ou seja, mais frustração...




            Até que um dia, analisando um negativo de casamento, uma imagem me chamou a atenção. Era uma foto cujo flash tinha falhado, mas o momento era lindo! Aquela imagem retratava, fielmente, o que os noivos estavam sentindo no momento do clique, inclusive mantendo o clima do ambiente, pelo tom mais amarelado. Fiquei olhando para aquele fotograma por um bom tempo, tentando entender porque ele tinha chamado tanto a minha atenção. 

            Ao parar para refletir sobre aquilo tudo, me caiu a ficha! Eram fotografias como aquela que eu sonhava fazer para o resto da minha carreira! Era um novo universo que havia surgido na minha frente e eu queria explorá-lo de todas as formas e com todas as minhas forças! Repetir imagens como aquela virou quase uma obsessão. Talvez, seja o melhor combustível para me manter fotografando até hoje.




            Perceber o que faz sentido e te faz feliz é o princípio, o meio e o fim de tudo! Ser criativo ou perceptivo não importa! Eu não me considero um fotógrafo criativo. Sou muito mais perceptivo! Então, procuro exercitar essa característica toda vez que saio para fotografar. E, se alguém me disser que adora o meu trabalho por ser criativo, só tenho uma coisa a dizer: “Muito obrigado!”


Fotos e texto
Lauro Maeda
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